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domingo, 27 de fevereiro de 2011

CARICATURA

Caricatura é um desenho de um personagem da vida real, tal como políticos e artistas. Porém, a caricatura enfatiza e exagera as características da pessoa de uma forma humorística, assim como em algumas circunstâncias acentua gestos, vícios e hábitos particulares em cada indivíduo.


A distorção e o uso de poucos traços são comuns na caricatura. Diz-se que uma boa caricatura pode ainda captar aspectos da personalidade de uma pessoa através do jogo com as formas. É comum sua utilização nas sátiras políticas; às vezes, esse termo pode ainda ser usado como sinônimo de grotesco (a imaginação do artista é priorizada em relação aos aspectos naturais) ou burlesco.

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MITO DO SEBASTIANISMO

O Sebastianismo foi um movimento que ocorreu em Portugal na segunda metade do século XVI como consequência da morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Por falta de herdeiros, o trono português terminou nas mãos do rei Filipe II de Espanha.
Basicamente é a esperança na vinda de um messias salvador e traduz uma inconformidade com a situação política vigente e uma expectativa de salvação, ainda que miraculosa, através da ressurreição de um morto ilustre.
Apesar do corpo do rei ter sido removido para Belém, o povo nunca aceitou o facto, divulgando a lenda de que o rei se encontrava ainda vivo, apenas esperando o momento certo para voltar ao trono e afastar o domínio estrangeiro.
O seu mais popular divulgador foi o poeta Bandarra, que produziu incansáveis versos clamando pelo retorno do Desejado, como era chamado D. Sebastião, vindo a ser o seu cognome.
Explorando a crendice popular, vários oportunistas tentaram  fazer-se passar pelo rei desejado, na tentativa de obter benefícios pessoais. Quando descobertos, foram condenados à morte.
Finalmente, em 1640, através do golpe da Restauração, Portugal voltou a ser independente e o movimento começou a desvanecer-se. O Sebastianismo porém continuou vivo por muito tempo na mentalidade dos Portugueses.


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TEMPO E ESPAÇO NA OBRA DE FERI LUÍS DE SOUSA


Espaço

            O espaço situa-se em três lugares: o palácio de Manuel de Sousa Coutinho (acto I), palácio de D. João de Portugal (acto II) e a capela / parte baixa do palácio (acto III).
            A mudança do acto I para o II é provocada pelo incêndio e o espaço tende a concentrar-se. O acto I envolve um espaço aberto, com amplas janelas, luz, decorado e comunica com o exterior, o que se relaciona com alguma felicidade que se vive naquele lugar.
            O acto II decorre num espaço mais fechado, mais sombrio e melancólico. Não tem janelas e as portas têm reposteiros, há grandes retratos de família, lembrado o passado. É aqui que vai chegar o Romeiro e  felicidade da família começa a desagregar-se.
            No acto III, o espaço ainda é mais fechado e subterrâneo, não há janelas e há pouca portas. Não há decoração. Na capela não há decoração, há apenas um altar e uma cruz, símbolos de sacrifício e de morte. É lá que Manuel e Madalena vão professar e maria vai morrer.
            Em suma pode dizer-se que, à medida que a acção avança e se torna mais trágica, o espaço é mais fechado e opressivo e aniquilador das personagens.


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Tempo

            Tal como o espaço, também o tempo se fecha e concentra. Inicialmente amplo e vasto (21 anos).
·      1578 – batalha de Alcácer Quibir.
·      +7 – anos de buscas por parte de Madalena.
·      +14 – segundo casamento / +13 nascimento de maria
·      1599 – tempo presente.

No presente, a peça passa-se numa sexta-feira à tarde, 21 anos após a batalha de Alcácer Quibir, passam oito dias desde o incêndio (noite de sexta para sábado), é de novo sexta-feira. Chega o Romeiro, Manuel de Sousa e Madalena professam e maria morre.
Toda a acção dramática se passa “Hoje”, o dia em tudo se concentra: por um lado, Madalena teme esse dia; por outro lado, D. João quer chegar ali “Hoje” (é o dia em que faz 21 anos que ocorreu a batalha.
Em síntese, podemos dizer que a acção, espaço e tempo convergem e concentram-se progressivamente, até à tragédia final.

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CARACTERÍSTICAS DAS PERSONAGENS EM FREI LUÍS DE SOUSA

Madalena de Vilhena
É uma heroína romântica, vive marcada por conflitos interiores e pelo passado. Os sentimentos e a sensibilidade sobrepõe-se à razão e é uma mulher em constante sofrimento. Crê em agoiros, superstições e dias fatais (a sexta-feira). É uma sofredora, tem um amor intenso e uma preocupação constante com a filha Maria, contudo coloca a cima de tudo a sua felicidade e amor ao lado de Manuel  de Sousa, mesmo o seu amor à pátria é menor do que o que sente por Manuel. No final da obra, aceita o convento como solução,  mas fá-lo seguindo Manuel (ele foi? Eu vou)


Manuel de Sousa Coutinho
É o típico herói clássico, dominado pela razão, que se orienta por valores universais, como a honra, a lealdade, a liberdade; é um patriota, um velho português às direitas, forte, corajoso e decidido (o incêndio), bom marido, pai terno, não sente ciúmes do passado e não crê em agoiros. O incêndio e a decisão
violenta de o concretizar é um traço romântico.
            Contudo, esta personagem evolui de uma atitude interior de força e de coragem e segurança para um comportamento de medo, de dor, sofrimento, insegurança e piedosa mentira no acto III quando teme pela saúde da filha e pela sua condição social.
            No final da obra, mostra-se tão decidido como noutros momentos: abandona tudo (bens, vida, mundo)e refugia-se no convento.


Maria de Noronha
            É a mulher-anjo dos românticos (fisicamente é fraca e frágil; psicologicamente é muito forte).
            Nobre, de inteligência precoce, é muito culta, intuitiva e perspicaz. Muito curiosa, quer saber tudo... É uma romântica: é nacionalista, idealista, sonhadora, fantasiosa, patriota, crente em agoiros e uma sebastianista.
            É a vitima inocente de toda a situação e acaba por morrer fisicamente, tocada pela vergonha de se sentir filha ilegítima (está tuberculosa).

          
D. João de Portugal
            Nobre cavaleiro, está ausente fisicamente durante o I e o II acto da peça. Contudo, está sempre presente na memória e palavras de Telmo, na consciência de Madalena, nas palavras de Manuel e na intuição de Maria.
            É sempre lembrado como patriota, digno, honrado, forte, fiel ao seu rei; quando regressa, na pele do Romeiro é austero e misterioso, representa um destino cruel, é implacável, destrói uma família e a sua felicidade, mas acaba por ser, também ele, vitima desse destino. Resta-lhe então a solidão, o vazio e a certeza de que ele já só faz parte do mundo dos mortos (é “ninguém”; madalena não o reconhece; Telmo preferia que ele não tivesse voltado pois Maria ocupou o seu lugar no coração do velho escudeiro):
            D. João é uma figura simbólica: representa o passado, a época gloriosa dos descobrimentos; representa também o presente, a pátria morta e sem identidade na mão dos espanhóis / e é a imagem da pátria cativa.


Telmo Pais
            É o velho aio, não é nobre, contudo a sua convivência com as famílias nobres, “deu-lhe” todas as características de um nobre (postura, fala, educação, cultura...).
            É o confidente de Madalena e de Maria.  Fiel, dedicado, é o elo e ligação entre as duas famílias (os dois maridos de Madalena), é a chama viva do passado que alimenta os terrores de Madalena.
É muito critico, cria juízos de valor e é através dele que  consciência das personagens fragmentada que vive num profundo conflito interior pois sente-se dividido entre D, João e Maria, não sabendo o que fazer.
É um sebastianistas e sofre muito pela sua lealdade.


Frei Jorge
            Irmão de Manuel de Sousa, representa a autoridade de Igreja. É também confidente de Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu “Terrível” pecado: amou Manuel de Sousa ainda D. João era vivo. É um uma figura moderadora, que procura harmonizar o conflito, modera os sentimentos trágicos. Acompanha sempre a família, é conciliador, pacificador e impõe uma certa racionalidade, procurando manter o equilíbrio no meio de uma família angustiada e desfeita.


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ACTO III


Manuel de Sousa é informado por frei Jorge de que D. João de Portugal está vivo e chegou na figura de um romeiro. Manuel consciente das dimensões da noticia, lamenta a ilegitimidade da filha, a sua quase certa morte e, num momento de desespero romântico, chora, sente-se confuso, dispõe-se a dar vida por ela, considera-se o principal culpado da situação da filha, revolta-se contra o Romeiro, arrependendo-se de o ter julgado tão cruelmente e decide professar, deixando assim o mundo e as suas vaidades. 
Paralelamente, Telmo prepara-se para o encontro cm D. João, o seu velho amo, por quem toda a vida desejou o seu regresso mas que, agora, perante a evidência da sua vinda, sente-se fragmentado e vive um profundo conflito interior, não sabendo por qual dos dois (D. João ou Maria) optar. Sofre muito, pois percebeu que Maria ocupou o lugar no seu coração que outrora estava ocupado por D. João e não sabe que caminho seguir. O encontro entra Telmo e D. João é muito emotivo. D. João depois de várias perguntas feitas ao seu fiel aio, ordena-lhe que vá dizes a D. Madalena que tudo não passou de um embuste, o Romeiro é vagabundo, um impostor, um mentiroso. Contudo, é já tarde de mais.
A decisão de Manuel já estava tomada e Madalena, depois de algumas e dúvidas e de tentar demover Manuel de Sousa, pondo a hipótese de que o Romeiro seria falso, acaba por segui-lo e professar.
Inicia-se o ritual que Maria interrompe, proferindo um logo discurso de revolta perante a sociedade, as leis do casamento, o mundo e Deus. Pede desesperadamente aos pais q eu a libertem da mancha do pecado da ilegitimidade e perante o silêncio destes, Maria acaba por morrer, confessando que morre de vergonha. Os pais professam perante o cadáver da filha.


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sábado, 26 de fevereiro de 2011

ACTO II

Cena I – Maria e Telmo
Maria pretende conversar com Telmo, para que este lhe revele a identidade do retrato que tanto assustava a mãe.
O incêndio do palácio provocou impressões diferentes entre Maria e Madalena, maria ficou fascinada, encontrou nele alimento para a usa fértil imaginação; Madalena ficou doente, aterrorizada, cheia de pesadelos, liga o incêndio à perda do marido, de que a destruição do retrato é um prognostico fatal.
Tal como no acto I, Maria agora cita o inicio de um livro trágico (pressentimento de fatalidade).
Na sala dos retratos, onde Maria conversava com Telmo, há 3 retratos que a fascina. Ela conhece dois mas quer confirmar o de D. João de Portugal. Em analepse, recorda o que ocorreu oito dias antes e que tanto perturbou a mãe, deixando-a doente. As atitudes estranhas da mãe perante o retrato deixaram Maria curiosa.
Telmo alterou a sua posição face Manuel de Sousa depois do incêndio: antes admitia as suas qualidades, mas não o admirava; agora admira-o pelo seu patriotismo e lealdade.
Quando Maria questiona Telmo sobre a identidade do retrato, este não responde.

Cena II – Maria, Manuel de Sousa e Telmo
É Manuel de Sousa (que entra sem que nenhum dos dois - Maria e Telmo – se aperceberem) que revela a identidade do retrato a Maria.
Manuel de Sousa refere-se a D. João, tal como fizera na cena VIII do acto I: admira as suas qualidades e não tem ciúmes.
Manuel de Sousa chega encoberto com uma capa, pois anda escondido (há oito dias) dos governadores.
Maria confessa ao pai as suas  capacidades intuitivas: já sabia a identidade do retrato sem ninguém lhe ter dito; era de um saber “cá de dentro”.

Cena III – Manuel de Sousa e Maria
Pai e filha conversam sobre a vida e confessa que com aquela capa parece um frade. Novo indicio de fatalidade.
Acentuam-se as relações familiares;: D. Madalena sempre respeitou D. João, mas nunca o amou; amou e ama Manuel de Sousa.
Maria não controla as emoções diante do retrato de D. João: admira-o pela sua coragem e liga-o ao seu rei, mas ama os seus pais.
Nesta cena, Manuel é meigo, carinhoso e afectivo para com a filha.

Cena IV – Maria, Manuel de so8usa e frei Jorge
Frei Jorge sugere a Manuel de Sousa que o acompanhe a Lisboa para agradecer ao arcebispo pois foi ele que intercedeu junto dos outros governadores.
Manuel decide acompanhá-lo a Lisboa, pois ate precisa de ir ao sacramento conversar com a abadessa (é a tia Joana de Castro que se separou do marido, para ambos professarem). Mais um indicio de fatalidade (também Manuel e Madalena vão separar-se e professar).
Maria quer acompanhar o pai a Lisboa; quer conhecer a tia Joana e quer levar consigo Telmo, frei Jorge e Doroteia.

Cena V – Madalena, Jorge, Manuel e Maria
Madalena que já está melhor, reage mal à ida de Manuel a Lisboa e não quer que a filha a deixe só.
Madalena teme pelo dia de Hoje, é um dia terrível para ela ( faz anos que foi a batalha de Alcácer Quibir); é sexta feira.
Perante toda a confusão, é frei Jorge quem vai resolver a situação, comprometendo-se a ficar com Madalena.
Madalena está cheia de agoiros, muito ligados ao passado, cheia de fatais medos.
Tudo faz pressentir que alguma coisa fatal está para acontecer.

Cena VI – Manuel de Sousa, Madalena e Jorge
Manuel confirma que Maria precisa de espairecer. Talvez lhe faça bem.
Madalena diz que não quer que Telmo fique (Terá medo das suas conversas?)

Cena VII - Manuel de Sousa, Madalena, Jorge e Maria entrando com  Telmo e doroteia
Madalena está preocupada, assustada e temerosa. Chora e pede a todos que não se afastem de Maria, que a protejam.
A despedida é dolorosa e dramática.

Cena VIII – Manuel de Sousa, Madalena, Jorge e Maria entrando com  Telmo e doroteia
Madalena volta a evidenciar a sua incapacidade para não sentir medo e horror.
A despedida é dramática – voltam a referir a Condessa de Vimioso (Joana de Castro) e paira no ar a fatalidade.

Cena IX – frei Jorge, monólogo
Frei Jorge sente só, contagiado também ele pela atmosfera trágica que se adensa.

Cena X – Jorge e Madalena
Madalena dá ordens a Miranda para que fique no mirante até que o bergantim chegue a Lisboa.
Madalena confessa a Jorge que HOJE é o dia da sua vida que mais tem receado.
·         Faz anos que casou a primeira vez.
·         Faz anos que se perdeu el-rei (e D. João).
·         Faz anos que conheceu Manuel de Sousa.
Madalena considera-se uma pecadora.
·         Conheceu Manuel de Sousa quando ainda D. João era vivo.
·         Amou-o assim que o viu; o pecado estava-lhe no coração; a imagem do amante perseguia-a; apenas foi fiel a D. João.
Adverbio de tempo HOJE repete-se nove vezes.


Cena XI – Madalena, Jorge e Miranda
A conversa de Madalena com frei Jorge é interrompida por Miranda. Esta traz a noticia da chegada de um romeiro – peregrino de Espanha, de Roma, dos santos lugares…
Madalena desvaloriza, mas Miranda diz que o romeiro traz um recado que só dará a Madalena.
Depois de algum desinteresse e sobressalto, Madalena dá ordem que mande entrar o romeiro.

Cena XII – Madalena e Jorge
Desconfianças de Jorge face a estranhos.

Cena XIII – Madalena, Jorge e Miranda que volta com o Romeiro
Miranda apresenta o Romeiro.
Jorge apresenta-o a Madalena de Vilhena e pergunta se é ela a quem lhe deseja falar.
O Romeiro como se a conhecesse (e conhece) confirma.

Cena XIII – Madalena, Jorge, Romeiro
É nesta cena que se atinge o clímax da acção.
O Romeiro face às perguntas de que lhe vão fazendo, vai-se dando a conhecer gradualmente.
Madalena, ingenuamente, não conhece D. João.
Constatando que ninguém o conhece, o Romeiro num “eu” e num “ele”, desdobrando a sua personalidade: transforma-se num “eu” que traz o recado de um “ele” / D. João.
A partir da revelação do recado, Madalena apenas compreende que D. João está vivo: a legitimidade de Maria é obvia e o seu casamento foi anulado, Manuel já não existe como seu marido.
Ao longo desta cena, todos os sinais e palavras do Romeiro o identificam com D. João. Todos o percebem. Apenas Madalena não o reconhece.

Cena XV – Jorge e o Romeiro
Face à pergunta de Jorge o Romeiro identifica-se através da palavra NINGUÉM, apontando para o retrato.



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FREI LUIS DE SOUSA - ACTO I

Cena I – monologo de Madalena

Madalena lê Os Lusíadas, no episódio de Inês de Castro. Compara-se Inês mas sente-se mais infeliz porque os terrores contínuos, os medos não a deixam viver um único instante de felicidade, nem sequer breve… A linguagem e emotiva.

Cena II – Madalena e Telmo

Telmo conversa com Madalena e aflige-a com recordações do passado. Nesta cena, todas as personagens são apresentadas:
  • Manuel de Sousa surge desvalorizado em relação a D. João de Portugal.
  • Maria é sempre caracterizada positivamente – curiosa, compreende tudo, formosa, bondosa, viveza de espírito.
  • Telmo – escudeiro valido e fiel, familiar quase parente… Cheio de agoiros e pressentimentos.

Estrutura-se, nesta cena, uma analepse, onde as personagens recuam 21 anos – batalha de Alcácer Quibir (1578), mais sete anos de busca (1585) -  2º casamento de Madalena, nascimento de Maria mais um ano (15999 – presente da acção.

Telmo confessa-se um crente no regresso de D. João e justifica a sua credulidade pelas palavras de uma carta escrita por d. João, onde esta garantia que “vivo ou morto” haveria de voltar.

Madalena pede a Telmo que não fale a Maria em assuntos relacionados com a batalha e D. Sebastião… e ele promete que o fará.

Madalena está preocupada com a demora de Manuel de Sousa que foi a Lisboa, é tarde e não aparece. Pede a Telmo que vá saber noticias junto de frei Jorge.

Cena III – Madalena, Telmo e Maria

Maria evidencia a sua cultura e gosto pela leitura. Pede a Telmo o livro da ilha encoberta… mostra-se uma crente no sebastianismo.

Madalena tenta levar a filha a não acreditar nem em fantasmas nem em fantasias do povo.

Esboça-se um pequeno conflito de Maria com o pai e com a mãe, pois ambos não aceitam ouvir falar do regresso de D. Sebastião. Tal causa estranheza em Maria.



Cena IV – Madalena e Maria

Maria não consegue entender nem compreender a perturbação e preocupação dos pais com ela.

D. Madalena não pode relevar a causa das suas preocupações…

Sem querer, Maria martiriza a mãe, afirmando que lê nos olhos, nas estrelas e sabe muitas coisas, mostrando-se portadora de uma forte imaginação.

Madalena não responde às questões da filha e tenta desviar de Maria, pedindo-lhe que fale do seu jardim.
  • As flores simbolizam a brevidade da vida.
  • As flores de Maria murcharam. Não será um presságio da sua morte?

Cena V – Jorge, Madalena, Maria

Frei Jorge traz a noticia de que os governadores saíram de Lisboa e querem vir hospedar-se na casa de Manuel de Sousa, a noticia é dada progressivamente.
  • Maria e Madalena reagem de formas distintas: Maria mostra-se entusiasmada, dá largas à sua imaginação, idealismo e patriotismo; Madalena revela alguma ingenuidade, é individualista e não revela qualquer sentido patriótico

Novos sinais da doença de Maria: ouve a voz do pai e percebe que vem “afrontado”


Cena VI – Jorge, Madalena, Maria e Miranda

Miranda anuncia a chegada de Manuel de Sousa / confirmação dos sinais da doença de Maria.

Madalena e frei Jorge ficam preocupados e destacam a agudeza do ouvido de Maria. Chamam-lhe “Terrível sinal”.


Cena VII – Jorge, Madalena, Maria, Miranda, Manuel de Sousa

É noite fechada.

Manuel de Sousa entra num tom precipitado e agitado, dando ordens aos seus criados. Algo estranho se passa e Madalena preocupa-se.

Manuel de Sousa usa o seu latim nas suas falas – personagem culta = estatuto social elevado.

Manuel de Sousa confirma as notícias trazidas por frei Jorge na cena V e anuncia que é preciso saírem imediatamente daquela casa.

Face a este anúncio, Maria reage de forma eufórica, intensa e patriótica; Madalena fica assustada e tenta contrariar Manuel.


Cena VIII – Madalena e Manuel de Sousa

Nesta cena contrasta a linguagem serena e decidida de Manuel de Sousa com a linguagem emotiva, hesitante e assustada de madalena.

Manuel mostra-se um herói clássico, racional, o homem presente, o patriota, de consciência limpa, nada teme e para ele não há razões que justifiquem não mudar para o palácio que fora de D. João.

Madalena age pelo coração, é modelo da heroína romântica, assustada, ligada ao passado cheia de pressentimentos e crente que vai morrer, infeliz, naquela casa.

Manuel de Sousa tenta chamá-la à razão e pede-lhe que atente na sua condição social, o ajude e apoie neste momento tão decisivo da sua vida.


Cenas IX e X – Todos

Telmo informa que os governadores desembarcaram.

Manuel de Sousa apressa ainda a mais a saída da casa e a mudança para o palácio de D. João.

Manuel pede a frei Jorge e a Telmo que levem Maria e Madalena


Cena XI – Quase monólogo. Manuel de Sousa, Miranda e outros criados.

Manuel refere o acontecido com seu pai e põe a hipótese de lhe acontecer algo semelhante. É uma prolepse ou antecipação da desgraça que irá acontecer.

Manuel de Sousa mostra-se um homem de valores intensos. Para ele, nada perdura, tudo muda, a vida é uma constante e eterna mudança, tudo é aparência…

Cena XII – Manuel de Sousa e criados, Madalena, Maria, Telmo e Jorge

Concretiza-se o incêndio.

Na impossibilidade de salvar o palácio, Madalena pede desesperadamente que lhe salvem o retrato do seu actual marido / prolepse / antecipação da separação…



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CARACTERÍSTICAS DA OBRA DE FREI LUÍS DE SOUSA

Almeida Garrett, na “Memoria ao Conservatório Real” apresenta e classifica a sua obra, considerando-a um drama pela forma e uma tragédia, pela índole.
Assim, as características do drama são o facto de Frei Luís de Sousa ter três actos, ser escrito em prosa, retratar um tema nacional e histórico, apresentar personagens históricas e ter marcas românticas como carácter sensível e sentimental de madalena, a heroína romântica, a fantasia, o idealismo e o patriotismo da maria, a mulher-anjo, as crenças em superstições e os dias fatais, o sebastianismo e a linguagem emotiva, ao serviço dos sentimentos e emoções das personagens. Também o refúgio na religião e a morte de Maria em cena são marcas deste género.
Paralelamente, as marcas da tragédia são as seguintes: número de personagens reduzido, a presença de coro nas figuras de Telmo e de frei Jorge e a presença de elementos típicos da tragédia – a Hybris (o desafio de Manuel de Sousa / incendia o seu palácio e de Madalena / 2º casamento), o pathos (sofrimento decorre da hybris, em crescendo), a anagnórise (aparecimento e reconhecimento de D. João, na figura do Romeiro, que vem fazer desencadear a intriga), dobos e eleos (o terror e a piedade que tomam conta das personagens), o anankê (o destino fatal que se rebate sobre as personagens e a marca para sempre) e cathársis (purificação do espectador)
  

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AlMEIDA GARRETT


João Baptista da Silva Leitão de Almeida e mais tarde visconde de Almeida Garrett, (Porto, 4 de Fevereiro de 1799Lisboa, 9 de Dezembro de 1854) foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, Par do Reino, ministro e secretário 
 Estado honorário português.
Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.

Cronologia das obras
Primeiras edições ou representações
   1819 Lucrécia
   1821 O Retrato de Vénus; Catão (representação); Mérope (representação)
   1822 O Toucador
   1825 Camões
   1826 Dona Branca
   1828 Adozinda
   1829 Lírica de João Mínimo; Da Educação (ensaio)
   1830 Portugal na Balança da Europa (ensaio)
   1838 Um Auto de Gil Vicente
   1841 O Alfageme de Santarém (1842 segundo algumas fontes)
   1843 Romanceiro e Cancioneiro Geral - tomo 1; Frei Luís de Sousa (representação)
   1845 O Arco de Sant'Ana - tomo 1; Flores sem fruto
   1846 Viagens na minha terra; D. Filipa de Vilhena (inclui Falar Verdade a Mentir e Tio Simplício)
   1848 As profecias do Bandarra; Um Noivado no Dafundo; A sobrinha do Marquês
   1849 Memória Histórica de J. Xavier Mouzinho da Silveira
   1850 O Arco de Sant'Ana - tomo 2;
   1851 Romanceiro e Cancioneiro Geral - tomos 2 e 3
   1853 Folhas Caídas
1871 Discursos Parlamentares e Memórias Biográficas (antologia póstuma)


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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Capítulo VI - Peroração


            No 1º paragrafo deste capitulo, o orador começa por referir o facto de os peixes serem animais excluídos dos sacrifícios, porque no altar só podem ser sacrificados animais vivos e os peixes chegariam mortos ao altar; seguidamente passa à comparação com os homens, afirmando que, tal como os peixes, os homens chegam ao altar mortos, ou seja, em pecado mortal. (É uma forte crítica aos cristãos, a quem acusa e desrespeitar Deus)

            No 2º paragrafo, o orador passa à autocrítica, afirmando que melhor fora ser como os peixes e não tomar Deus nas suas mãos, no altar, porque não consegue cumpri verdadeiramente a sua missão como pregador. Tomado os peixes como exemplo, afirma que a condição irracional dos peixes é preferível à sua racionalidade, pois os peixes não ofendem a Deus com palavras, nem com a memória, nem com o entendimento, nem com a vontade. Finalmente, refere que enquanto os peixes cumprem o destino que Deus lhes reservou, ele, pregador, não cumpre a missão que Deus lhe confiou, que é servir a Deus.

            No final do sermão, o orador apela ao louvor a Deus (“Louvai, peixes, a Deus...”) através de uma construção anafórica, que exprime a exortação e  sua intensidade.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Capítulo V - Repreensões em geral

Este capítulo é reservado às repreensões em particular e para tal, o Padre Vieirra repreend quatro peixes:
  1. Os roncadores
  2. Os pegadores
  3. Os voadores
  4. O polvo
1. Os roncadores

São caracterizados como peixes pequenos, fácilmente pescados, mas que roncam muito.

Depois de questionar e constactar que os grandes peixes têm pouca língua, o orador estranha o facto deste peixe tão pequeno fazer tanto barulho. Dá como exemplo alguns homens (como S. Pedro, Golias, Caifas  e Pilatos, lembrando que Deus não gosta de roncadores  que abate aqueles que muito roncam.

Finalmente o orador compara os roncadores com Santo Atónio, observando que tendo este tanto poder e tanta sabedoria, nunca se gabou disso, mas antes se calou. Não foi abatido e a sua voz ficou para sempre. (Fica subjacente a ideia de que estes peixes representam os soberbos e os orgulhosos)

2. Os pegadores

São retratados como peixes pequenos que se "pegam" aos costados dos peixes grandes e vive na  dependência destes, tranquilos e seguros, pois o peixe grande não se pode defender. Contudo, quando o peixe grande morre, os pequenos morrem com eles.

Exemplifica, depois, com Homens (Herodes; toda a sua família e toda a sua corte), (Adão e Eva); segue-se a comparação com Santo António e a observação de que este se pegou com Cristo e com Deus; tornando-se imortal. (Denota-se que estes peixes simbolizam o parasitismo social e os oportunistas que se "atrelam" aos outros, sempre que destes obtenham benefícios.

3. Os voadores 


São caracterizados como peixes com as barbatanas maiores do que as dos outros peixes e, por isso, fazem das barbatanas asas. O orador acusa-os e condena-os, lembrando-lhes que foram criados para peixes e não para aves, logo devem contentar-se com o elemento ÁGUA e não quererem o AR. Por essa razão são pescados como peixes e caçados como aves, alegando que esse é o castigo da sua presunção e da sua vaidade.

Exemplifica, seguidamente, com o mundo dos homens, lembrando a figura de Simão Mago: este quis voar, construiu umas asas, mas caiu e, dessa queda, partiu os pés. Aqui, é importante verificar e reflectir não no castigo mas no seu género: Simão Mago tinha os pés para andar e queria asas para voar, então é justo que perca as asas para voar, mas também que perca os pés para não andar. (Quem tudo quer tudo perde; Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem.).

Na comparação com Santo António, o orador lembra que este tinha asas: a sabedoria natural e a espiritual e nunca as usou por ambição e nunca as usou por ambição; foi considerado leigo e sem ciência e a sua voz ficou para sempre. (Os voadores são a imagem dos ambiciosos e dos presunçosos)

4. O polvo


Começa por ser retratado na aparência:
   > com o seu capelo na cabeça parece um monge (santidade)
   > com os seus raios estendidos parece uma estrela (beleza)
   > com não ter ossos nem espinhas (brandura)

Contudo, na sua essência, é o maior traidor do mar, utilizando para talo seu mimetismo e enganando o outro peixe que rapidamente é a sua vítima.

Exemplificando, o polvo é comparado a Judas, contudo o orador conclui que, ainda assim, a traição do polvo é maior que a de Judas. (esconde-se, muda de cor; Judas traiu às claras).

Comparando com Santo António, o Padre Vieira lembra que este foi o maior exemplo de candura, sinceridade e verdade. Nele nunca houve mentira.
(O polvo representa os hipócritas, os traidores, os falsos)