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domingo, 29 de maio de 2011

Cesário Verde – um poeta de contrastes

Ø      A poesia é o real

·   Observação atenta do quotidiano objectivo que o circunda (deambulação).
·   Captação de todas as imagens e sensações desse real.
·   Reflecte na poesia que o exterior deixa no seu interior

Ø      A poesia é denúncia e intervenção

·   Retrata as desigualdades sociais, burguesia e povo (“Num bairro moderno”).
·   Critica o poder do mais forte.
·   Denuncia a sociedade desumana e injusta (“contrariedades”).
·   Solidariza-se com os fracos e desfavorecidos (“contrariedades”).

Ø      Linhas temáticas

Binómio campo/cidade
Conta o quotidiano da cidade de Lisboa e do campo que conheceu em Linda-a-Pastora.
·         A cidade limita, aniquila, aprisiona. É como uma cela que enclausura o espírito e não permite a libertação do ser. É também doença e morte, espaço de epidemia e pestes; é capital maldita, soturna, onde tudo sufoca e incomoda (“O sentimento de um ocidental”)

·          O campo é a fuga e a solução da humilhação social, sentimental e estética provocada pela cidade; é o refúgio salutar, o espaço idílico, representa o útil, a saúde e a força; é o lugar da revigoração das forças vindas da Terra-mãe (Mito de Anteu); o lugar onde o corpo e o espírito se reconfortam (“Nós”, “Num bairro moderno”)



Cidade
Campo
Morte
Vida
Repulsa / rejeição
Paixão / atracção
Soturnidade e melancolia / incómodo
Luminosidade e alegria
Epidemia / solidão e miséria
Saúde, vigor e força
Capital maldita – o artificial / o fútil
Espaço de paz / amor
Crueldade / injustiças – desejo de evasão
Fraternidade
Esterilidade / vazio / morte
Fertilidade / vida

O real / autêntico / a verdade




            Imagética feminina

Dois tipos de mulher articulados com os dois locais onde se movimentam.

·         A mulher citadina surge associada à fatalidade, à morte, tal como a cidade; é a mulher que destrói, pois é frívola calculista, dominadora e sem sentimentos, é o produto das convenções sociais e humanas e retrata os valores decadentes e a violência social. É uma mulher predadora que gera humilhação sentimental e sexual e incorpora um valor erótico que, ao mesmo tempo, desperta desejo e arrasta para a morte. É uma mulher bela e luminosa, sensual, atraente e elegante mas contém fatalidade, é o símbolo da morte e conduz o poeta à humilhação (“deslumbramentos”, “esplêndido”, “vaidosa”)

·         A mulher do campo é frágil, ingénua, despretensiosa (mesmo quando enquadrada na cidade – “ A Débil”), capaz de oferecer amor e a vida inerentes aos espaços rurais. É uma mulher angélica que sugere a libertação, envolve a pureza, a autenticidade e a verdade. É uma mulher bonina, delicada, simples, espontânea onde o erotismo, cheio de pureza se associa ao campo. Esta figura realiza o poeta que nela supera a humilhação provocada pela mulher da cidade e com ela vive feliz, em harmonia e numa ligação intima à terra (“Setentrional”).


A Questão social

Cesário Verde interessa-se pelo conflito social do campo e da cidade, analisa-o intensamente e retrata-o em antinomia.

·         Assim, fez a anatomia do homem esmagado pela cidade retrata com ironia mordaz a burguesia (novos ricos) endinheirada mas sem valores, desumana, cruel e incapaz de ser solidária e fraterna (“Num bairro moderno”).

·         Por outro lado retrata-se o povo como classe humilde e desfavorecida pela sorte, o povo que tem de trabalhar arduamente, é mal remunerado, sofre e é desprezado socialmente (“Cristalizações” e “Contrariedades”). Face a estes, o poeta revela compaixão e solidariedade, colocando-se ao seu lado na dor, no sofrimento e no trabalho.

- Carácter deambulatório
- Presença do quotidiano citadino e campestre
- Binómio campo (vida, pureza, liberdade, saúde, felicidade, luz) / cidade (morte, tristeza, infelicidade, prisão, sombra)
- Imagem da mulher:
  • Do povo (engomadeira de “Contrariedades”)
  • Leviana (prostitutas)
  • Sedutora e bela (“Deslumbramentos”)
  • Frívola, sedutora e distante (“De Tarde”)
  • Pura e regeneradora (“A Débil”)

Estilo / Linguagem / Características

·         Vocabulário preciso, conciso e pragmático.
·         Uso de diminutivo com expressividade: carga negativa / irónica ou compaixão e solidariedade.
·         Uso de verbos sensoriais – poeta que transmite o real sentido para a poesia.
·         Rigor estrófico, métrico e rimático = parnasianismo (transpõe para a poesia o seu desejo de perfeição)  
·         É um poeta / prosador realista = retrata ambientes de modo a projectar de forma objectiva e rigorosa.
·           É impressionista = acumula pormenores das sensações captadas / recurso às sinestesias / imagens de cor, movimentos, formas…
·         É simbolista = as palavras e as imagens, por vezes, apenas sugerem.
·         É parnasiano = objectividade nos temas, o rigor na forma.
·         É surrealista = transfiguração do real

Reflexão crítica sobre os Maias

“Os Maias” são um romance em que se conta a história de família nas suas várias gerações e, simultaneamente são um fresco caricatural da sociedade portuguesa do séc. XIX, em forma de crónica de costumes, em cujo palco desfila toda uma elite que não consegue salvar a pátria do tédio, da monotonia e decadência em que ela está mergulhada.
            Com efeito, ao longo da obra perpassa, na globalidade, um negativismo que acaba por se concretizar no “falhanço” de todas as personagens. Desde os mais hipócritas, molengões e indiferentes até aos mais viajados, superiores e nobres, tudo falha numa total irrealização de ideias e projectos jamais concretizados. Contudo, importa referir que não constitui surpresa o facto de Pedro da Maia e Eusébiozinho, por exemplo, falharem. Espantoso é, de facto, que as pedagogias de Brown (anti-românticas e anti-portuguesas) conduzam ao falhanço de um individuo inicialmente enérgico e cheio de vontade de vencer, mas que aos poucos vai adiando a realização dos seus projectos até que estes definitivamente adormecidos no seu diletantismo. Que aconteceu a Carlos? Que se passou com a sua geração (Ega e Carlos) tão lutadores e ardentes nos seus tempos de Coimbra e agora tão cheia de sonhos incumpridos e irrealizados; que os levou a considerar no final da obra (Cap. XVIII) que falharam a vida, considerando mesmo que não vale a pena viver? Pode dizer-se que o contexto deplorável e mesquinho que os rodeava não permitiu o seu triunfo e aniquilou-os pela raiz, destrui-lhes os sonhos, transformou-os e tornou-os seres absolutamente indiferentes a tudo e até à própria vida. Na verdade, o Portugal de então não tinha dignidade, perdera a alma social e afundava-se numa subserviente aceitação de tudo o que vinha de fora, desprezando os valores e tudo o que era nacional. O País transformara-se num lugar impossível de realização de ideias e projectos e só lhe restava morrer para, eventualmente, renascer mais tarde com outra alma onde a dignidade reinasse. Com a morte de Afonso, o varão de outras idades e o símbolo de um Portugal antigo, forte, vigoroso e heróico, extingue-se a raça e Portugal permanecera desconsoladoramente na mesma. Carlos e João da Ega no passeio final pelas ruas de Lisboa, analisam Portugal com um forte pessimismo como se aí, todas as ideias e todos os sonhos, mesmo os mais ardentes (e aparentemente indestrutíveis) se desfizessem em poeira, desilusão, ociosidade e conformismo.
            Poder-se-à relacionar o percurso de Carlos ao longo da obra com o dos homens da geração de 70? Obviamente sim. À semelhança das figuras da geração de 70 lutaram de forma ardente e violenta pela implementação dos seus ideais, deram continuidade a essa luta através da realização das conferências do casino, nas quais procuravam retratar e denunciar múltiplos aspectos da sociedade e, finalmente os “Onze de Bragança” era ainda um grupo que se reunia mas cujas finalidades eram exclusivamente de convívio de mentalidades afins e de diversão, evolvidas por uma áurea de snobismo e diletantismo intelectual. “Os vencidos da vida” foi o nome escolhido para este grupo que simbolizou a direcção aristocrática e intelectual do movimento de 70 em conflito com os valores vigentes do constitucionalismo e de onde emergiu um profundo pessimismo e desencanto.



OS MAIAS - uma tragédia

Os Maias são uma obre realista na qual o seu autor tece uma crítica à sociedade lisboeta da 2ª metade do século XIX, construindo uma crónica de costumes onde emerge um amplo quadro do ambiente sócio-cultural onde os personagens se movimentam.
            Paralelamente, a intriga central da obra envolve uma profunda dimensão trágica, sendo possível descortinar no decorrer da intriga os elementos típicos da tragédia clássica.
            Assim, o tema do incesto era o termo fulcral da maioria das tragédias e, na obra, os protagonistas da intriga principal, Carlos e Maria Eduarda vão-se aproximando fatalmente até à prática, primeiro inconsciente e depois consciente, do incesto. Na verdade, ambos desafiam situações e valores hybris e deixam-se conduzir por uma força sobrenatural que comanda os acontecimentos conducentes à catástrofe final. Esta força é o Destino que configura a atmosfera trágica através de presságios, alguns deles bastante indiciosos e funcionam como sinais que revelam de forma subtil o desfecho terrível. São exemplos da presença desta força a sombrinha escarlate a M. Monforte, sugerindo as relações as relações de sangue entre irmãos, os três lírios que murchavam na jarra, simbolizando a desgraça que se abaterá sobre os três Maias (Carlos, Maria e Afonso), a similitude dos seus nomes (Carlos Eduardo e Maria Eduarda) pressagiando uma semelhança nos destinos de ambos, a tapeçaria com os amores incestuosos dos deuses Vénus e Marte, a coruja empalhada que Maria tinha na cómoda e cujos olhos agoirentos, contemplavam os seus encontros de amor ou, ainda, o próprio nome – Toca – sugere relações incestuosas e selvagens. Destaca-se, ainda, na obre a peripécia quando ocorre a revelação de Guimarães a Ega, de que é portador de um cofre com documentos que devera entregar à família Maia. Guimarães conta a Ega que Maria é irmã de Carlos e inicia o processo de reconhecimento / Anagnórise, que vai culminar quando Carlos, Ega e Afonso analisam todos os documentos que o cofre contém. A terrível verdade surge: Carlos e Maria são irmãos. O incesto inconsciente torna-se consciente e a catástrofe emerge com toda a sua violência: o avô Afonso morre e os dois amantes separam-se. Maria parte e Carlos decide viajar pelo mundo na companhia de João da Ega.


 

Eça de Queirós - Um escritor de contrastes

Os Maias são a obra-prima de Eça de Queirós e ao longo do seu desenvolvimento destaca-se um conjunto de aspectos que permitem concluir que o seu autor é um escritor de contrastes.
            Na verdade, no decorrer da análise da obra, constatamos que há vários aspectos antagónicos que opõem figuras, ideologias, espaços, etc. que não só geram conflitos entre as personagens como também permitem retratar e caracterizar a sociedade da época. Assim, confrontam-se na obra o romantismo através da personagem Alencar que faz eco de uma ideologia onde a emotividade e a sensibilidade marcam presença e o realismo / naturalismo materializado de João da Ega; nesta perspectiva, toda a primeira parte da obra, a intriga secundária é uma novela romântica com a centralidade de Pedro da Maia, enquanto que a parte central, o romance de Carlos, envolve e faz a apologia do realismo como corrente literária; também se comportam as educações, nomeadamente a educação tradicional, à portuguesa e conservadora, ministrada a Pedro da Maia e a Eusébiozinho e a educação à inglesa, progressista e inovadora de Carlos da maia, ambas com resultados e consequências igualmente antagónicas. Um outro contraste marcante na obra é a oposição espaço rural, mais especificamente Santa Olávia onde decorre a infância e educação de Carlos, uma espécie de refúgio que Afonso sempre procura quando a cidade o cansa e decepciona.
A cidade simboliza a corrupção, o adultério e a hipocrisia, enquanto o espaço rural é imagem da paz, da vida e da felicidade, da regeneração das forças onde é possível superar o negativismo provocado pela cidade.

Cronologia sumária


 

 

Obras

  • O mistério da estrada de Sintra
  • O Crime do Padre Amaro
  • A Tragédia da Rua das Flores
  • O Primo Basílio
  • O Mandarim
  • As Minas de Salomão
  • A Relíquia
  • Os Maias
  • Uma Campanha Alegre
  • O Tesouro
  • A Aia
  • Adão e Eva no paraíso
  • Correspondência de Fradique Mendes
  • A Ilustre Casa de Ramires
  • A Cidade e as Serras
  • Contos
  • Prosas bárbaras
  • Cartas de Inglaterra
  • Ecos de Paris
  • Cartas familiares e bilhetes de Paris
  • Notas contemporâneas
  • Últimas páginas
  • A Capital (1925, póstumo)
  • O conde de Abranhos
  • Alves & Companhia
  • Correspondência
  • O Egipto
  • Cartas inéditas de Fradique Mendes
  • Eça de Queirós entre os seus - Cartas íntimas

Estátua na Póvoa de Varzim.

“Geração de 70” e a “Questão Coimbrã”

domingo, 27 de fevereiro de 2011

CARICATURA

Caricatura é um desenho de um personagem da vida real, tal como políticos e artistas. Porém, a caricatura enfatiza e exagera as características da pessoa de uma forma humorística, assim como em algumas circunstâncias acentua gestos, vícios e hábitos particulares em cada indivíduo.


A distorção e o uso de poucos traços são comuns na caricatura. Diz-se que uma boa caricatura pode ainda captar aspectos da personalidade de uma pessoa através do jogo com as formas. É comum sua utilização nas sátiras políticas; às vezes, esse termo pode ainda ser usado como sinônimo de grotesco (a imaginação do artista é priorizada em relação aos aspectos naturais) ou burlesco.

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MITO DO SEBASTIANISMO

O Sebastianismo foi um movimento que ocorreu em Portugal na segunda metade do século XVI como consequência da morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Por falta de herdeiros, o trono português terminou nas mãos do rei Filipe II de Espanha.
Basicamente é a esperança na vinda de um messias salvador e traduz uma inconformidade com a situação política vigente e uma expectativa de salvação, ainda que miraculosa, através da ressurreição de um morto ilustre.
Apesar do corpo do rei ter sido removido para Belém, o povo nunca aceitou o facto, divulgando a lenda de que o rei se encontrava ainda vivo, apenas esperando o momento certo para voltar ao trono e afastar o domínio estrangeiro.
O seu mais popular divulgador foi o poeta Bandarra, que produziu incansáveis versos clamando pelo retorno do Desejado, como era chamado D. Sebastião, vindo a ser o seu cognome.
Explorando a crendice popular, vários oportunistas tentaram  fazer-se passar pelo rei desejado, na tentativa de obter benefícios pessoais. Quando descobertos, foram condenados à morte.
Finalmente, em 1640, através do golpe da Restauração, Portugal voltou a ser independente e o movimento começou a desvanecer-se. O Sebastianismo porém continuou vivo por muito tempo na mentalidade dos Portugueses.


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TEMPO E ESPAÇO NA OBRA DE FERI LUÍS DE SOUSA


Espaço

            O espaço situa-se em três lugares: o palácio de Manuel de Sousa Coutinho (acto I), palácio de D. João de Portugal (acto II) e a capela / parte baixa do palácio (acto III).
            A mudança do acto I para o II é provocada pelo incêndio e o espaço tende a concentrar-se. O acto I envolve um espaço aberto, com amplas janelas, luz, decorado e comunica com o exterior, o que se relaciona com alguma felicidade que se vive naquele lugar.
            O acto II decorre num espaço mais fechado, mais sombrio e melancólico. Não tem janelas e as portas têm reposteiros, há grandes retratos de família, lembrado o passado. É aqui que vai chegar o Romeiro e  felicidade da família começa a desagregar-se.
            No acto III, o espaço ainda é mais fechado e subterrâneo, não há janelas e há pouca portas. Não há decoração. Na capela não há decoração, há apenas um altar e uma cruz, símbolos de sacrifício e de morte. É lá que Manuel e Madalena vão professar e maria vai morrer.
            Em suma pode dizer-se que, à medida que a acção avança e se torna mais trágica, o espaço é mais fechado e opressivo e aniquilador das personagens.


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Tempo

            Tal como o espaço, também o tempo se fecha e concentra. Inicialmente amplo e vasto (21 anos).
·      1578 – batalha de Alcácer Quibir.
·      +7 – anos de buscas por parte de Madalena.
·      +14 – segundo casamento / +13 nascimento de maria
·      1599 – tempo presente.

No presente, a peça passa-se numa sexta-feira à tarde, 21 anos após a batalha de Alcácer Quibir, passam oito dias desde o incêndio (noite de sexta para sábado), é de novo sexta-feira. Chega o Romeiro, Manuel de Sousa e Madalena professam e maria morre.
Toda a acção dramática se passa “Hoje”, o dia em tudo se concentra: por um lado, Madalena teme esse dia; por outro lado, D. João quer chegar ali “Hoje” (é o dia em que faz 21 anos que ocorreu a batalha.
Em síntese, podemos dizer que a acção, espaço e tempo convergem e concentram-se progressivamente, até à tragédia final.

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CARACTERÍSTICAS DAS PERSONAGENS EM FREI LUÍS DE SOUSA

Madalena de Vilhena
É uma heroína romântica, vive marcada por conflitos interiores e pelo passado. Os sentimentos e a sensibilidade sobrepõe-se à razão e é uma mulher em constante sofrimento. Crê em agoiros, superstições e dias fatais (a sexta-feira). É uma sofredora, tem um amor intenso e uma preocupação constante com a filha Maria, contudo coloca a cima de tudo a sua felicidade e amor ao lado de Manuel  de Sousa, mesmo o seu amor à pátria é menor do que o que sente por Manuel. No final da obra, aceita o convento como solução,  mas fá-lo seguindo Manuel (ele foi? Eu vou)


Manuel de Sousa Coutinho
É o típico herói clássico, dominado pela razão, que se orienta por valores universais, como a honra, a lealdade, a liberdade; é um patriota, um velho português às direitas, forte, corajoso e decidido (o incêndio), bom marido, pai terno, não sente ciúmes do passado e não crê em agoiros. O incêndio e a decisão
violenta de o concretizar é um traço romântico.
            Contudo, esta personagem evolui de uma atitude interior de força e de coragem e segurança para um comportamento de medo, de dor, sofrimento, insegurança e piedosa mentira no acto III quando teme pela saúde da filha e pela sua condição social.
            No final da obra, mostra-se tão decidido como noutros momentos: abandona tudo (bens, vida, mundo)e refugia-se no convento.


Maria de Noronha
            É a mulher-anjo dos românticos (fisicamente é fraca e frágil; psicologicamente é muito forte).
            Nobre, de inteligência precoce, é muito culta, intuitiva e perspicaz. Muito curiosa, quer saber tudo... É uma romântica: é nacionalista, idealista, sonhadora, fantasiosa, patriota, crente em agoiros e uma sebastianista.
            É a vitima inocente de toda a situação e acaba por morrer fisicamente, tocada pela vergonha de se sentir filha ilegítima (está tuberculosa).

          
D. João de Portugal
            Nobre cavaleiro, está ausente fisicamente durante o I e o II acto da peça. Contudo, está sempre presente na memória e palavras de Telmo, na consciência de Madalena, nas palavras de Manuel e na intuição de Maria.
            É sempre lembrado como patriota, digno, honrado, forte, fiel ao seu rei; quando regressa, na pele do Romeiro é austero e misterioso, representa um destino cruel, é implacável, destrói uma família e a sua felicidade, mas acaba por ser, também ele, vitima desse destino. Resta-lhe então a solidão, o vazio e a certeza de que ele já só faz parte do mundo dos mortos (é “ninguém”; madalena não o reconhece; Telmo preferia que ele não tivesse voltado pois Maria ocupou o seu lugar no coração do velho escudeiro):
            D. João é uma figura simbólica: representa o passado, a época gloriosa dos descobrimentos; representa também o presente, a pátria morta e sem identidade na mão dos espanhóis / e é a imagem da pátria cativa.


Telmo Pais
            É o velho aio, não é nobre, contudo a sua convivência com as famílias nobres, “deu-lhe” todas as características de um nobre (postura, fala, educação, cultura...).
            É o confidente de Madalena e de Maria.  Fiel, dedicado, é o elo e ligação entre as duas famílias (os dois maridos de Madalena), é a chama viva do passado que alimenta os terrores de Madalena.
É muito critico, cria juízos de valor e é através dele que  consciência das personagens fragmentada que vive num profundo conflito interior pois sente-se dividido entre D, João e Maria, não sabendo o que fazer.
É um sebastianistas e sofre muito pela sua lealdade.


Frei Jorge
            Irmão de Manuel de Sousa, representa a autoridade de Igreja. É também confidente de Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu “Terrível” pecado: amou Manuel de Sousa ainda D. João era vivo. É um uma figura moderadora, que procura harmonizar o conflito, modera os sentimentos trágicos. Acompanha sempre a família, é conciliador, pacificador e impõe uma certa racionalidade, procurando manter o equilíbrio no meio de uma família angustiada e desfeita.


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ACTO III


Manuel de Sousa é informado por frei Jorge de que D. João de Portugal está vivo e chegou na figura de um romeiro. Manuel consciente das dimensões da noticia, lamenta a ilegitimidade da filha, a sua quase certa morte e, num momento de desespero romântico, chora, sente-se confuso, dispõe-se a dar vida por ela, considera-se o principal culpado da situação da filha, revolta-se contra o Romeiro, arrependendo-se de o ter julgado tão cruelmente e decide professar, deixando assim o mundo e as suas vaidades. 
Paralelamente, Telmo prepara-se para o encontro cm D. João, o seu velho amo, por quem toda a vida desejou o seu regresso mas que, agora, perante a evidência da sua vinda, sente-se fragmentado e vive um profundo conflito interior, não sabendo por qual dos dois (D. João ou Maria) optar. Sofre muito, pois percebeu que Maria ocupou o lugar no seu coração que outrora estava ocupado por D. João e não sabe que caminho seguir. O encontro entra Telmo e D. João é muito emotivo. D. João depois de várias perguntas feitas ao seu fiel aio, ordena-lhe que vá dizes a D. Madalena que tudo não passou de um embuste, o Romeiro é vagabundo, um impostor, um mentiroso. Contudo, é já tarde de mais.
A decisão de Manuel já estava tomada e Madalena, depois de algumas e dúvidas e de tentar demover Manuel de Sousa, pondo a hipótese de que o Romeiro seria falso, acaba por segui-lo e professar.
Inicia-se o ritual que Maria interrompe, proferindo um logo discurso de revolta perante a sociedade, as leis do casamento, o mundo e Deus. Pede desesperadamente aos pais q eu a libertem da mancha do pecado da ilegitimidade e perante o silêncio destes, Maria acaba por morrer, confessando que morre de vergonha. Os pais professam perante o cadáver da filha.


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sábado, 26 de fevereiro de 2011

ACTO II

Cena I – Maria e Telmo
Maria pretende conversar com Telmo, para que este lhe revele a identidade do retrato que tanto assustava a mãe.
O incêndio do palácio provocou impressões diferentes entre Maria e Madalena, maria ficou fascinada, encontrou nele alimento para a usa fértil imaginação; Madalena ficou doente, aterrorizada, cheia de pesadelos, liga o incêndio à perda do marido, de que a destruição do retrato é um prognostico fatal.
Tal como no acto I, Maria agora cita o inicio de um livro trágico (pressentimento de fatalidade).
Na sala dos retratos, onde Maria conversava com Telmo, há 3 retratos que a fascina. Ela conhece dois mas quer confirmar o de D. João de Portugal. Em analepse, recorda o que ocorreu oito dias antes e que tanto perturbou a mãe, deixando-a doente. As atitudes estranhas da mãe perante o retrato deixaram Maria curiosa.
Telmo alterou a sua posição face Manuel de Sousa depois do incêndio: antes admitia as suas qualidades, mas não o admirava; agora admira-o pelo seu patriotismo e lealdade.
Quando Maria questiona Telmo sobre a identidade do retrato, este não responde.

Cena II – Maria, Manuel de Sousa e Telmo
É Manuel de Sousa (que entra sem que nenhum dos dois - Maria e Telmo – se aperceberem) que revela a identidade do retrato a Maria.
Manuel de Sousa refere-se a D. João, tal como fizera na cena VIII do acto I: admira as suas qualidades e não tem ciúmes.
Manuel de Sousa chega encoberto com uma capa, pois anda escondido (há oito dias) dos governadores.
Maria confessa ao pai as suas  capacidades intuitivas: já sabia a identidade do retrato sem ninguém lhe ter dito; era de um saber “cá de dentro”.

Cena III – Manuel de Sousa e Maria
Pai e filha conversam sobre a vida e confessa que com aquela capa parece um frade. Novo indicio de fatalidade.
Acentuam-se as relações familiares;: D. Madalena sempre respeitou D. João, mas nunca o amou; amou e ama Manuel de Sousa.
Maria não controla as emoções diante do retrato de D. João: admira-o pela sua coragem e liga-o ao seu rei, mas ama os seus pais.
Nesta cena, Manuel é meigo, carinhoso e afectivo para com a filha.

Cena IV – Maria, Manuel de so8usa e frei Jorge
Frei Jorge sugere a Manuel de Sousa que o acompanhe a Lisboa para agradecer ao arcebispo pois foi ele que intercedeu junto dos outros governadores.
Manuel decide acompanhá-lo a Lisboa, pois ate precisa de ir ao sacramento conversar com a abadessa (é a tia Joana de Castro que se separou do marido, para ambos professarem). Mais um indicio de fatalidade (também Manuel e Madalena vão separar-se e professar).
Maria quer acompanhar o pai a Lisboa; quer conhecer a tia Joana e quer levar consigo Telmo, frei Jorge e Doroteia.

Cena V – Madalena, Jorge, Manuel e Maria
Madalena que já está melhor, reage mal à ida de Manuel a Lisboa e não quer que a filha a deixe só.
Madalena teme pelo dia de Hoje, é um dia terrível para ela ( faz anos que foi a batalha de Alcácer Quibir); é sexta feira.
Perante toda a confusão, é frei Jorge quem vai resolver a situação, comprometendo-se a ficar com Madalena.
Madalena está cheia de agoiros, muito ligados ao passado, cheia de fatais medos.
Tudo faz pressentir que alguma coisa fatal está para acontecer.

Cena VI – Manuel de Sousa, Madalena e Jorge
Manuel confirma que Maria precisa de espairecer. Talvez lhe faça bem.
Madalena diz que não quer que Telmo fique (Terá medo das suas conversas?)

Cena VII - Manuel de Sousa, Madalena, Jorge e Maria entrando com  Telmo e doroteia
Madalena está preocupada, assustada e temerosa. Chora e pede a todos que não se afastem de Maria, que a protejam.
A despedida é dolorosa e dramática.

Cena VIII – Manuel de Sousa, Madalena, Jorge e Maria entrando com  Telmo e doroteia
Madalena volta a evidenciar a sua incapacidade para não sentir medo e horror.
A despedida é dramática – voltam a referir a Condessa de Vimioso (Joana de Castro) e paira no ar a fatalidade.

Cena IX – frei Jorge, monólogo
Frei Jorge sente só, contagiado também ele pela atmosfera trágica que se adensa.

Cena X – Jorge e Madalena
Madalena dá ordens a Miranda para que fique no mirante até que o bergantim chegue a Lisboa.
Madalena confessa a Jorge que HOJE é o dia da sua vida que mais tem receado.
·         Faz anos que casou a primeira vez.
·         Faz anos que se perdeu el-rei (e D. João).
·         Faz anos que conheceu Manuel de Sousa.
Madalena considera-se uma pecadora.
·         Conheceu Manuel de Sousa quando ainda D. João era vivo.
·         Amou-o assim que o viu; o pecado estava-lhe no coração; a imagem do amante perseguia-a; apenas foi fiel a D. João.
Adverbio de tempo HOJE repete-se nove vezes.


Cena XI – Madalena, Jorge e Miranda
A conversa de Madalena com frei Jorge é interrompida por Miranda. Esta traz a noticia da chegada de um romeiro – peregrino de Espanha, de Roma, dos santos lugares…
Madalena desvaloriza, mas Miranda diz que o romeiro traz um recado que só dará a Madalena.
Depois de algum desinteresse e sobressalto, Madalena dá ordem que mande entrar o romeiro.

Cena XII – Madalena e Jorge
Desconfianças de Jorge face a estranhos.

Cena XIII – Madalena, Jorge e Miranda que volta com o Romeiro
Miranda apresenta o Romeiro.
Jorge apresenta-o a Madalena de Vilhena e pergunta se é ela a quem lhe deseja falar.
O Romeiro como se a conhecesse (e conhece) confirma.

Cena XIII – Madalena, Jorge, Romeiro
É nesta cena que se atinge o clímax da acção.
O Romeiro face às perguntas de que lhe vão fazendo, vai-se dando a conhecer gradualmente.
Madalena, ingenuamente, não conhece D. João.
Constatando que ninguém o conhece, o Romeiro num “eu” e num “ele”, desdobrando a sua personalidade: transforma-se num “eu” que traz o recado de um “ele” / D. João.
A partir da revelação do recado, Madalena apenas compreende que D. João está vivo: a legitimidade de Maria é obvia e o seu casamento foi anulado, Manuel já não existe como seu marido.
Ao longo desta cena, todos os sinais e palavras do Romeiro o identificam com D. João. Todos o percebem. Apenas Madalena não o reconhece.

Cena XV – Jorge e o Romeiro
Face à pergunta de Jorge o Romeiro identifica-se através da palavra NINGUÉM, apontando para o retrato.



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FREI LUIS DE SOUSA - ACTO I

Cena I – monologo de Madalena

Madalena lê Os Lusíadas, no episódio de Inês de Castro. Compara-se Inês mas sente-se mais infeliz porque os terrores contínuos, os medos não a deixam viver um único instante de felicidade, nem sequer breve… A linguagem e emotiva.

Cena II – Madalena e Telmo

Telmo conversa com Madalena e aflige-a com recordações do passado. Nesta cena, todas as personagens são apresentadas:
  • Manuel de Sousa surge desvalorizado em relação a D. João de Portugal.
  • Maria é sempre caracterizada positivamente – curiosa, compreende tudo, formosa, bondosa, viveza de espírito.
  • Telmo – escudeiro valido e fiel, familiar quase parente… Cheio de agoiros e pressentimentos.

Estrutura-se, nesta cena, uma analepse, onde as personagens recuam 21 anos – batalha de Alcácer Quibir (1578), mais sete anos de busca (1585) -  2º casamento de Madalena, nascimento de Maria mais um ano (15999 – presente da acção.

Telmo confessa-se um crente no regresso de D. João e justifica a sua credulidade pelas palavras de uma carta escrita por d. João, onde esta garantia que “vivo ou morto” haveria de voltar.

Madalena pede a Telmo que não fale a Maria em assuntos relacionados com a batalha e D. Sebastião… e ele promete que o fará.

Madalena está preocupada com a demora de Manuel de Sousa que foi a Lisboa, é tarde e não aparece. Pede a Telmo que vá saber noticias junto de frei Jorge.

Cena III – Madalena, Telmo e Maria

Maria evidencia a sua cultura e gosto pela leitura. Pede a Telmo o livro da ilha encoberta… mostra-se uma crente no sebastianismo.

Madalena tenta levar a filha a não acreditar nem em fantasmas nem em fantasias do povo.

Esboça-se um pequeno conflito de Maria com o pai e com a mãe, pois ambos não aceitam ouvir falar do regresso de D. Sebastião. Tal causa estranheza em Maria.



Cena IV – Madalena e Maria

Maria não consegue entender nem compreender a perturbação e preocupação dos pais com ela.

D. Madalena não pode relevar a causa das suas preocupações…

Sem querer, Maria martiriza a mãe, afirmando que lê nos olhos, nas estrelas e sabe muitas coisas, mostrando-se portadora de uma forte imaginação.

Madalena não responde às questões da filha e tenta desviar de Maria, pedindo-lhe que fale do seu jardim.
  • As flores simbolizam a brevidade da vida.
  • As flores de Maria murcharam. Não será um presságio da sua morte?

Cena V – Jorge, Madalena, Maria

Frei Jorge traz a noticia de que os governadores saíram de Lisboa e querem vir hospedar-se na casa de Manuel de Sousa, a noticia é dada progressivamente.
  • Maria e Madalena reagem de formas distintas: Maria mostra-se entusiasmada, dá largas à sua imaginação, idealismo e patriotismo; Madalena revela alguma ingenuidade, é individualista e não revela qualquer sentido patriótico

Novos sinais da doença de Maria: ouve a voz do pai e percebe que vem “afrontado”


Cena VI – Jorge, Madalena, Maria e Miranda

Miranda anuncia a chegada de Manuel de Sousa / confirmação dos sinais da doença de Maria.

Madalena e frei Jorge ficam preocupados e destacam a agudeza do ouvido de Maria. Chamam-lhe “Terrível sinal”.


Cena VII – Jorge, Madalena, Maria, Miranda, Manuel de Sousa

É noite fechada.

Manuel de Sousa entra num tom precipitado e agitado, dando ordens aos seus criados. Algo estranho se passa e Madalena preocupa-se.

Manuel de Sousa usa o seu latim nas suas falas – personagem culta = estatuto social elevado.

Manuel de Sousa confirma as notícias trazidas por frei Jorge na cena V e anuncia que é preciso saírem imediatamente daquela casa.

Face a este anúncio, Maria reage de forma eufórica, intensa e patriótica; Madalena fica assustada e tenta contrariar Manuel.


Cena VIII – Madalena e Manuel de Sousa

Nesta cena contrasta a linguagem serena e decidida de Manuel de Sousa com a linguagem emotiva, hesitante e assustada de madalena.

Manuel mostra-se um herói clássico, racional, o homem presente, o patriota, de consciência limpa, nada teme e para ele não há razões que justifiquem não mudar para o palácio que fora de D. João.

Madalena age pelo coração, é modelo da heroína romântica, assustada, ligada ao passado cheia de pressentimentos e crente que vai morrer, infeliz, naquela casa.

Manuel de Sousa tenta chamá-la à razão e pede-lhe que atente na sua condição social, o ajude e apoie neste momento tão decisivo da sua vida.


Cenas IX e X – Todos

Telmo informa que os governadores desembarcaram.

Manuel de Sousa apressa ainda a mais a saída da casa e a mudança para o palácio de D. João.

Manuel pede a frei Jorge e a Telmo que levem Maria e Madalena


Cena XI – Quase monólogo. Manuel de Sousa, Miranda e outros criados.

Manuel refere o acontecido com seu pai e põe a hipótese de lhe acontecer algo semelhante. É uma prolepse ou antecipação da desgraça que irá acontecer.

Manuel de Sousa mostra-se um homem de valores intensos. Para ele, nada perdura, tudo muda, a vida é uma constante e eterna mudança, tudo é aparência…

Cena XII – Manuel de Sousa e criados, Madalena, Maria, Telmo e Jorge

Concretiza-se o incêndio.

Na impossibilidade de salvar o palácio, Madalena pede desesperadamente que lhe salvem o retrato do seu actual marido / prolepse / antecipação da separação…



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