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domingo, 29 de maio de 2011

Cesário Verde – um poeta de contrastes

Ø      A poesia é o real

·   Observação atenta do quotidiano objectivo que o circunda (deambulação).
·   Captação de todas as imagens e sensações desse real.
·   Reflecte na poesia que o exterior deixa no seu interior

Ø      A poesia é denúncia e intervenção

·   Retrata as desigualdades sociais, burguesia e povo (“Num bairro moderno”).
·   Critica o poder do mais forte.
·   Denuncia a sociedade desumana e injusta (“contrariedades”).
·   Solidariza-se com os fracos e desfavorecidos (“contrariedades”).

Ø      Linhas temáticas

Binómio campo/cidade
Conta o quotidiano da cidade de Lisboa e do campo que conheceu em Linda-a-Pastora.
·         A cidade limita, aniquila, aprisiona. É como uma cela que enclausura o espírito e não permite a libertação do ser. É também doença e morte, espaço de epidemia e pestes; é capital maldita, soturna, onde tudo sufoca e incomoda (“O sentimento de um ocidental”)

·          O campo é a fuga e a solução da humilhação social, sentimental e estética provocada pela cidade; é o refúgio salutar, o espaço idílico, representa o útil, a saúde e a força; é o lugar da revigoração das forças vindas da Terra-mãe (Mito de Anteu); o lugar onde o corpo e o espírito se reconfortam (“Nós”, “Num bairro moderno”)



Cidade
Campo
Morte
Vida
Repulsa / rejeição
Paixão / atracção
Soturnidade e melancolia / incómodo
Luminosidade e alegria
Epidemia / solidão e miséria
Saúde, vigor e força
Capital maldita – o artificial / o fútil
Espaço de paz / amor
Crueldade / injustiças – desejo de evasão
Fraternidade
Esterilidade / vazio / morte
Fertilidade / vida

O real / autêntico / a verdade




            Imagética feminina

Dois tipos de mulher articulados com os dois locais onde se movimentam.

·         A mulher citadina surge associada à fatalidade, à morte, tal como a cidade; é a mulher que destrói, pois é frívola calculista, dominadora e sem sentimentos, é o produto das convenções sociais e humanas e retrata os valores decadentes e a violência social. É uma mulher predadora que gera humilhação sentimental e sexual e incorpora um valor erótico que, ao mesmo tempo, desperta desejo e arrasta para a morte. É uma mulher bela e luminosa, sensual, atraente e elegante mas contém fatalidade, é o símbolo da morte e conduz o poeta à humilhação (“deslumbramentos”, “esplêndido”, “vaidosa”)

·         A mulher do campo é frágil, ingénua, despretensiosa (mesmo quando enquadrada na cidade – “ A Débil”), capaz de oferecer amor e a vida inerentes aos espaços rurais. É uma mulher angélica que sugere a libertação, envolve a pureza, a autenticidade e a verdade. É uma mulher bonina, delicada, simples, espontânea onde o erotismo, cheio de pureza se associa ao campo. Esta figura realiza o poeta que nela supera a humilhação provocada pela mulher da cidade e com ela vive feliz, em harmonia e numa ligação intima à terra (“Setentrional”).


A Questão social

Cesário Verde interessa-se pelo conflito social do campo e da cidade, analisa-o intensamente e retrata-o em antinomia.

·         Assim, fez a anatomia do homem esmagado pela cidade retrata com ironia mordaz a burguesia (novos ricos) endinheirada mas sem valores, desumana, cruel e incapaz de ser solidária e fraterna (“Num bairro moderno”).

·         Por outro lado retrata-se o povo como classe humilde e desfavorecida pela sorte, o povo que tem de trabalhar arduamente, é mal remunerado, sofre e é desprezado socialmente (“Cristalizações” e “Contrariedades”). Face a estes, o poeta revela compaixão e solidariedade, colocando-se ao seu lado na dor, no sofrimento e no trabalho.

- Carácter deambulatório
- Presença do quotidiano citadino e campestre
- Binómio campo (vida, pureza, liberdade, saúde, felicidade, luz) / cidade (morte, tristeza, infelicidade, prisão, sombra)
- Imagem da mulher:
  • Do povo (engomadeira de “Contrariedades”)
  • Leviana (prostitutas)
  • Sedutora e bela (“Deslumbramentos”)
  • Frívola, sedutora e distante (“De Tarde”)
  • Pura e regeneradora (“A Débil”)

Estilo / Linguagem / Características

·         Vocabulário preciso, conciso e pragmático.
·         Uso de diminutivo com expressividade: carga negativa / irónica ou compaixão e solidariedade.
·         Uso de verbos sensoriais – poeta que transmite o real sentido para a poesia.
·         Rigor estrófico, métrico e rimático = parnasianismo (transpõe para a poesia o seu desejo de perfeição)  
·         É um poeta / prosador realista = retrata ambientes de modo a projectar de forma objectiva e rigorosa.
·           É impressionista = acumula pormenores das sensações captadas / recurso às sinestesias / imagens de cor, movimentos, formas…
·         É simbolista = as palavras e as imagens, por vezes, apenas sugerem.
·         É parnasiano = objectividade nos temas, o rigor na forma.
·         É surrealista = transfiguração do real

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