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domingo, 29 de maio de 2011

Reflexão crítica sobre os Maias

“Os Maias” são um romance em que se conta a história de família nas suas várias gerações e, simultaneamente são um fresco caricatural da sociedade portuguesa do séc. XIX, em forma de crónica de costumes, em cujo palco desfila toda uma elite que não consegue salvar a pátria do tédio, da monotonia e decadência em que ela está mergulhada.
            Com efeito, ao longo da obra perpassa, na globalidade, um negativismo que acaba por se concretizar no “falhanço” de todas as personagens. Desde os mais hipócritas, molengões e indiferentes até aos mais viajados, superiores e nobres, tudo falha numa total irrealização de ideias e projectos jamais concretizados. Contudo, importa referir que não constitui surpresa o facto de Pedro da Maia e Eusébiozinho, por exemplo, falharem. Espantoso é, de facto, que as pedagogias de Brown (anti-românticas e anti-portuguesas) conduzam ao falhanço de um individuo inicialmente enérgico e cheio de vontade de vencer, mas que aos poucos vai adiando a realização dos seus projectos até que estes definitivamente adormecidos no seu diletantismo. Que aconteceu a Carlos? Que se passou com a sua geração (Ega e Carlos) tão lutadores e ardentes nos seus tempos de Coimbra e agora tão cheia de sonhos incumpridos e irrealizados; que os levou a considerar no final da obra (Cap. XVIII) que falharam a vida, considerando mesmo que não vale a pena viver? Pode dizer-se que o contexto deplorável e mesquinho que os rodeava não permitiu o seu triunfo e aniquilou-os pela raiz, destrui-lhes os sonhos, transformou-os e tornou-os seres absolutamente indiferentes a tudo e até à própria vida. Na verdade, o Portugal de então não tinha dignidade, perdera a alma social e afundava-se numa subserviente aceitação de tudo o que vinha de fora, desprezando os valores e tudo o que era nacional. O País transformara-se num lugar impossível de realização de ideias e projectos e só lhe restava morrer para, eventualmente, renascer mais tarde com outra alma onde a dignidade reinasse. Com a morte de Afonso, o varão de outras idades e o símbolo de um Portugal antigo, forte, vigoroso e heróico, extingue-se a raça e Portugal permanecera desconsoladoramente na mesma. Carlos e João da Ega no passeio final pelas ruas de Lisboa, analisam Portugal com um forte pessimismo como se aí, todas as ideias e todos os sonhos, mesmo os mais ardentes (e aparentemente indestrutíveis) se desfizessem em poeira, desilusão, ociosidade e conformismo.
            Poder-se-à relacionar o percurso de Carlos ao longo da obra com o dos homens da geração de 70? Obviamente sim. À semelhança das figuras da geração de 70 lutaram de forma ardente e violenta pela implementação dos seus ideais, deram continuidade a essa luta através da realização das conferências do casino, nas quais procuravam retratar e denunciar múltiplos aspectos da sociedade e, finalmente os “Onze de Bragança” era ainda um grupo que se reunia mas cujas finalidades eram exclusivamente de convívio de mentalidades afins e de diversão, evolvidas por uma áurea de snobismo e diletantismo intelectual. “Os vencidos da vida” foi o nome escolhido para este grupo que simbolizou a direcção aristocrática e intelectual do movimento de 70 em conflito com os valores vigentes do constitucionalismo e de onde emergiu um profundo pessimismo e desencanto.



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